Bastante conhecida em países da Europa e nos EUA, a nutrição funcional começa a ganhar espaço no Brasil. Isso porque aumenta, a cada dia, o número de pessoas interessadas não apenas emagrecer, mas em melhorar a vitalidade. Mas no que essa nova especialidade difere da nutrição tradicional? De acordo com a nuricionista Valéria Paschoal, a principal diferença está no estudo da “individualidade bioquímica” dos pacientes, o que permite uma dieta mais personalizada, que não se resume a prescrever alimentos considerados saudáveis.
“Para definir o melhor plano alimentar para um paciente, temos que conhecê-lo profundamente”, diz Paschoal. Por isso, além de fazer exames laboratoriais, os pacientes respondem a uma série de perguntas sobre saúde (por exemplo, se as unhas estão fracas e o intestino funciona bem), comportamento (se há alterações de humor, se a pessoa fica irritada com facilidade) e herança genética (possíveis doenças na família). Os sintomas são, então, relacionados a carências ou excessos de determinados nutrientes.
Emagrecimento saudável
“Nossas dietas não são generalizadas e não se baseiam apenas em contar calorias”, confirma a nutricionista Carolina Baccei. A própria nutricionista é um bom exemplo de como a especialidade funciona. “Teve uma época da minha vida que comecei a ganhar peso e não sabia o motivo, já que frequentava academia e me preocupava com a alimentação. Dois anos depois de formada, iniciei a pós em nutrição funcional e logo percebi que todos os sintomas mostravam um desequilíbrio no meu organismo. Mudei a qualidade da minha alimentação, emagreci 11 quilos e desde então mantenho meu peso”, relata.
No caso dela, foi preciso eliminar temporariamente os laticínios e a farinha de trigo, além de tomar suplementos vitamínicos e probióticos (que melhoram a saúde do intestino). “A proteína presente na farinha de trigo (glúten) e o leite de vaca aumentam a inflamação do organismo quando consumidos em excesso e, para algumas pessoas, causam sérios sintomas como insônia, aumento de peso, acne, constipação, entre outros”. Mas ela alerta: “Cada pessoa funciona de um jeito, e o que me deu resultado pode não ser suficiente para outra pessoa”.
A empresária Regina Romito, adepta da nutrição funcional, segue um plano alimentar personalizado há três anos. Na época, ela queria perder 3 quilos e sentia alguns desconfortos como barriga estufada, azia, sonolência após almoço, inchaço nas pernas, intestino preguiçoso e ansiedade. “No começo foi um pouco difícil seguir a dieta, pois tinha que pensar na família também. Mas consegui fazer algumas trocas mais saudáveis, como o creme de leite pelo creme de soja e farinha branca pela integral. Fui mudando os hábitos alimentares aos poucos”, diz.
Nem mesmo o custo mais alto dos alimentos orgânicos e integrais assustam a empresária. “Se colocarmos na balança o quanto gastaria com guloseimas e congelados, dá no mesmo. Com o consumo equilibrado, consigo organizar bem o orçamento e variar os alimentos para não enjoar”, afirma. A empresária passou a comer de 3 em 3 horas e riscou do cardápio vários alimentos gordurosos, condimentados, embutidos, enlatados e congelados. “A minha pele ficou mais viçosa e as roupas mais largas”, comemora.
A advogada Daniele Portes, que procurou a nutrição funcional com o objetivo de perder peso, também diz que não teve dificuldades em seguir o plano alimentar. “Hoje em dia os alimentos são encontrados com muita facilidade em casas de produtos naturais e grandes supermercados. Acredito ser melhor gastar com alimentos para a saúde do que com remédios”, conclui.
Qualidade de vida
“Geralmente o principal objetivo dos pacientes é perder peso, mas quando vamos mais fundo, avaliando exames clínicos e investigando sinais e sintomas, vamos além do emagrecimento”, conta Paschoal.
Uma das pacientes dela, S.P. (que prefere não se identificar), passou por várias etapas de quimioterapia, após uma cirurgia de reconstrução intestinal, em decorrência de um câncer de peritônio. “Optei pela nutrição funcional para ter qualidade de vida. A questão era recuperar um organismo intoxicado e mal nutrido, que tinha como característica principal a baixa de plaquetas e, ao mesmo tempo, prepará-lo para mais uma etapa de quimioterapia”, descreve a paciente, que apresentava um quadro de diarreia persistente na ocasião.
“Seguindo a dieta e tomando alguns suplementos, em quatro dias, após a quimioterapia, eu não tinha mais diarreia”, afirma ela. Depois de dezessete meses com uma dieta personalizada – dos quais 12 em quimioterapia, a paciente afirma que se sente muito bem. “Sinto-me disposta, levo uma vida normal e com qualidade – apesar do tratamento pesado e constante. A percepção que tenho é que a nutrição funcional me trata, oferecendo às células do meu organismo os nutrientes necessários para o fortalecimento do meu sistema imunológico”, avalia.
Alimento como remédio
“Cada indivíduo tem uma genética, um metabolismo único e, por isso, um determinado alimento pode ser benéfico para um e ter efeito oposto para outros”, diz a nutricionista Andréia Naves. “O emagrecimento é consequência do reequilíbrio que promovemos em nosso organismo. Se há algo errado, um organismo inflamado pode disparar não só obesidade, mas também sérios problemas de saúde como disfunções na tireoide, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, artrites, ovário policístico, diabetes e câncer, entre outros”, afirma Baccei.
“No meu ponto de vista, as dietas que se baseiam apenas na contagem de calorias nem sempre funcionam. Pode ocorrer uma adaptação metabólica do organismo e o indivíduo voltar a engordar”, afirma a nutricionista Daniela de Almeida. “Já atendemos pacientes com insuficiência cardíaca, que por meio da nutrição funcional obtiveram redução do tamanho do coração e melhora significativa da qualidade e expectativa de vida; obesos mórbidos conseguiram emagrecer e mantêm o peso até hoje; ex-hipertensos que conseguiram controlar a pressão; e pré-diabéticos que reverteram a situação melhorando a sensibilidade à insulina, entre outros casos”, exemplifica.
Fonte-Reportagem UOL- São Paulo-16-03-12.